História da Quinta das Longas

 

A villa romana da Quinta das Longas situa-se na actual freguesia de São Vicente e Ventosa (Elvas, Portugal). Em época romana, o sítio encontrava-se no território que a colónia Augusta Emérita tutela simultaneamente enquanto capital administrativa da província da Lusitânia e dos conventos emeritensis. A posição da villa na geografia do Império é fundamental para a compreensão do significado histórico da sua ocupação. Além desta interacção no território emieritense, há ainda que ter em conta que a Quinta das Longas se localiza na área de convergência dos dois principais itinerários que permitem o acesso da capital provincial ao seu porto atlântico de Olisipo. Este é um território com um elevado potencial económico, aliando aos solos de boa qualidade, para o tipo de agricultura praticada em época romana, à presença de recursos hídricos em abundância. A área florestada seria certamente maior do que é hoje, como indiciam os índices de presença de espécies de caça, características de habitad de bosque, nos restos faunísticos recolhidos em Torre de Palma (Monforte) e na Quinta das Longas. A proximidade com a área de exploração de mármores de Vila Viçosa /Estremoz é também um factor de grande importância económica deste território, que apresenta características que tornam fácil o transporte destes materiais através de uma rede viária consolidada. A ocupação romana desta área torna-se significativa a partir do séc. I d.C., sendo uma área densamente povoada cujo momento de maior apogeu se terá situado no Baixo-Império, sobretudo durante o séc. IV. A ocupação melhor conhecida do sítio da Quinta das Longas materializa-se no edifício residencial da villa baixo-império que datamos do séc. IV (podendo a sua construção e primeiro momento de ocupação situarem-se ainda dos finais do séc. III). Trata-se de uma villa de peristilo que segue os cânones tipos da época, embora com algumas características peculiares no contexto das villae desta região. A água assume um papel de destaque no programa decorativo do edifício, sendo a fachada Norte aberta cenograficamente sobre a ribeira de Chaves com um pórtico que faz articulação entre o grande espelho de àgua e o ninfeu. Os pavimentos em mosaico e os elementos decorativos em mármore (frisos parietais e esculturas) completam o programa decorativo do edifício, que contaria ainda com painéis de estuque pintados nas paredes , dos quais apenas foi possível recuperar pequenos troços in situ e inúmeros fragmentos nas camadas de derrube do edifício. Sob este edifício encontram-se restos de um outro que interpretamos como uma primeira villa baixo-império, datada do séc. III, deixando-se em aberto a possibilidade de se tratar neste caso de construções pertencentes à pars rústicas. Alguns elementos de cultura material (cerâmica de paredes finas, terra sigilara itálica e sud-gálica) testemunham a ocupação do sítio no Alto Império, embora não seja possível caracterizar melhor esse momento. Regista-se ainda a existência de vestígios do que terá sido um povoado do Neolítico/Calcolítico, muito possivelmente relacionado com os construtores e utilizadores de uma anta situada nas proximidades.